21
maio
12

Falando um pouquinho de morte

Eu, parece, ainda não morri. Tenho histórias para contar, mas está frio e eu, saberá Jodi Jr. por quê, estou de rasteirinha e sem meias, então me despacho.

Eis o que me traz aqui em manhã tão dormível: lendo esse último apanhado? recolha? coletânea do Paulo Francis vi que ele, em 77, quando eu tinha cinco aninhos, já falava no último Woody Allen, como eu, tu, nós falamos ainda hoje, 35 anos depois.

Portanto pensei: tá na hora do Woody Allen morrer. Porque, queridos, é muito lamentável. Se o horror seguinte é ver as mocinhas na Linha Amarela falando no último James Cameron, vamos lá, e vamos logo, por favor.

Enquanto isso, eu volto pra cama. De onde, aliás.

20
dez
09

Anos, anos pintando as unhas

Conheci um mendigo que dizia: ah, Dona Sílvia, tô nem aí pro popular. Mendigo erudito é só aqui, Antonio Maria, coladinho no ennui que come a minha âme cruelle.

* * *

Ele queria me comer, sabem. E toda tentativa é válida, não preciso me estender. Pois a estante não serviu de alerta. Ele começou a dizer qualquer coisa, achou que meus olhos estavam vesgos de romance (era de riso) e, a certa altura, despejou, sei lá a propósito de quê:

All of the sudden…

Gargalhei. Dali a dez minutos ele já me odiava. Lindo.

* * *

Aviso aos candidatos: não dou para quem chama Aristóteles de o estagirita, ainda mais em conversa ao vivo; não dou para quem chama Shakespearow de bardo de Avon em qualquer, qualquer contexto; não dou para quem mesoclisa. Marido meu que vem com besteira encara greve e calcinha com no pasarán.

E olha que em casa eu sou Chiquita Bacana, hein?

28
jun
09

Gooble gobble

Sim, claro, o fato capital de nossa era, a morte de Maiconjets, merece que eu saia brevemente da minha precoce aposentadoria.

Uma vez minha manicure quase me matou quando, séria e do nada, me disse: “Sabia, dona Sílvia? O Maiconjets comprou um macaco”. O serviço parou por dez minutos; ela, gracinha, não cobrou a água com açúcar.

Claro, daqui a pouco vai ter jornalista exumado dos anos 80 dizendo que “rompeu-se a Linha Maginot* do pop” ou coisa assim. Ainda bem que não leio jornal.

Agora, vejam Lisa Marie indo visitar papai & maridón no céu. E passem bem.

* Eu estou louca, não estou? Estou sim. Quem ainda sabe o que era a Linha Maginô? O que disseram, e que era mil vezes mais previsível, é que foi o onze de setembro do pop. Ai.

29
abr
09

Por que arranjei dois maridos

Parei de procurar emprego. They always say they’ll let you know.

14
mar
09

Então escrevo mais, Bruno

Eu (cuidando pra não sujar o bumbum de terra) e meus maridos. Ao fundo, trabalhando, Carmela, minha escrava paraguaia.

Eu (cuidando pra não sujar o bumbum de terra) e meus maridos. Ao fundo, trabalhando, Carmela, minha escrava paraguaia.

Ah, sim: ser solidário é um jeito simpático de ser inútil.

12
mar
09

Estamos bem?

Daqui a pouquinho, não vou mais poder escrever que não gosto de cebola. Alguém lerá isso e me escreverá um comentário histérico – ou postará alguma coisa histérica em seu blog histérico – acusando a minha insensibilidade para com todos os que morreram heroicamente em defesa do nosso direito de comer cebola. E esta casa da mãe Sílvia será inundada pela justa indignação de todos os amantes e amigos da cebola – pela ONG Onion Union ou sei lá o quê.

Ai, mundo.

03
dez
08

É melhor não existir

Ler Mia Couto é como cuidar de leprosos. Quer dizer: muito admiro quem consiga, mal concebo quem goste. Eu, já se sabe, não consigo, não gosto nem suporto o cheiro. Me deram “Terra Sonâmbula”, que, descuidada, deixei sobre a mesa da cozinha: empesteou a casa toda, igual queijo ralado de marca vagabunda.

Archie Goodwin seria o homem para mim, se existisse. Homem tem que dançar bem e gostar de bife. E fumar, e beber uísque, e dirigir de fogo, e de vez em quando se pendurar em cordas sem que se entenda bem o porquê.  E, claro, nos deixar convencidas de que nos daria uma surra, sem nunca dá-la de verdade. E escrever bem. Tudo o que Goodwin costuma fazer, exceto beber uísque.

Não é horrível que um escritor fictício seja mais homem e muito mais bacana que um escritor real?

10
nov
08

Que pena

Falo do fechamento do blog do doutor Goiaba. Ficamos, não é?, com o que já está aí; aquilo que, quando eu era menina, um baixista rebolante chamava de “paiol de bobagens”.

Ô revoá, doutor.

Antes disso foi a Tina Harris que morreu. O link que estava ali do lado agora sai. Fiquei devendo a ela uma, ah, explicação detalhada sobre por que a minha geração perguntou ao Chico why don’t you boy f-f-f-fade away; vou tentar, vou tentar. Não já, é claro.

Em tempo: quando falo da minha geração, falo da parte dela que se veste com roupas e não com cortinas. E que só usa chinelos aos domingos.

O Obama? Não dei muita bola. Acho que ele se parece com um escrivão de polícia carioca ou baiano, dos que se vestem na Ducal e que todo mundo acha muito educadinho – quase sem perceber o mal que ele pode te fazer. Se tivesse óculos de aros grandes, se pareceria com um cantor evangélico e seu nome seria, digamos, Jônatas Abdias.

Eu volto. Mas não já. Deixa o Obama obamar.

22
set
08

Não é um tédio?

Quando ouço o nome “Bolívar”, o que me vem à mente é um nordestino baixinho, careca, bem crestadinho de sol, com uns óculos de lentes grossas e um casaco muito impróprio para a estação. E, oh, sim, um leve cheiro de suor.

Nos anos 70, ele era cabeludo e barbudo; usava coletinhos mínimos e miçangas, talvez até uma faixa amarrada na testa; tocava um violão com unhas sujas, e era ideologicamente a favor da mortadela. Gravou um disco em que pelo menos uma das faixas era gritada e tinha um som parecido com o de cítaras.

Hoje ele é bem intransigente, o Bolívar, e escreve num jornalzinho vociferante. Tem um fusca ou algo assim, e rima – iconoclasta, vá – igreja com cerveja.

Ai, o Bolívar.

10
ago
08

Hooray, cowabunga, tchã-nã-nã

Não sei vocês, mas eu me espanto toda vez que uma mulher começa a falar de futebol. É como se ela falasse de caçar elefantes: que mulher caça elefantes? Que mulher vê futebol?

Quanto o assunto é futebol ou olimpíada, faço cara de grande elenco.

Mas acho que gostaria de ver alguém caçando elefantes. Eu poria um belo vestido, com sombrinha florida, e me sentaria num lugar alto – uma cadeira de salva-vidas, digamos. E veria meu bravo Livingstone correndo em torno de um elefante, atirando nele com uma espingarda e gritando “Hooray! Cowabunga! Tchã-nã-nã!” a cada tiro que acertasse. Eu aplaudiria, entusiasmada, esses esforços bem sucedidos; choraria uma lagrimazinha protocolar pelo elefante, e daria uma camisa nova ao negrinho com a nécessaire cheia de cartuchos. À noite, premiaria meu Livingstone. Hooray, cowabunga e tchã-nã-nã até de manhã.

Gostaria também de ver uma tourada. O raciocínio é o mesmíssimo; apenas, hooray, cowabunga e tchã-nã-nã a cada bandeirilha espetada. Sem dó de touro ou de elefante, admirando ardentemente meu caçador, meu matador.

* * *

Quem resolveu me ler tem que saber: tiro férias todos os meses.

Eu vim ao mundo em férias, na verdade. Férias pobres, mas férias. Vim ao mundo jogar travesseiros para cima e gritar:

– Hooray! Cowabunga! Tchã-nã-nã!

Para isso, mister se faz ter dois maridos.




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