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Chiquismo

Começo explicando que chiquismo não é coisa de gente chique; é coisa de quem gosta do Chico. O Chico sem mais delongas todos sabem quem é, não? O Chico. B. de H. Ele.

Pois vos conto que neste meu sumiço descobri que há gente muito culta em chiquismo. Gente que nunca leu o Dom Quixote, nem as Ilusões Perdidas, nem o Crime e Castigo ou o Dom Casmurro, mas que tem o songbook do C. B. de H. de cor na cabeça, que recita letra inteira de primeira e depois apresenta detalhado estudo sociológico, rigorosamente contextualizado.

Fico impressionada. Conheço, do Chico, aquelas duas ou três assim mais ou menos que todo mundo assovia, sabem como é? A da Geni, a da banda a passar, mais uma ou duas. Eu acho que é Chico o bastante, mas isso, claro, me coloca como uma perfeita iletrada no âmbito chiquista.

O caso é que até tentei ouvir mais, saber mais; experimentei aquela d'”o meu pai era baiano, meu avô era baiano, todo mundo era baiano, inclusive eu sou baiano”, e dormi no meio. Tentei o Apesar de você, mas, sem perceber, fui para a cozinha antes do refrão – fui comer Nutella – e acabei não reouvindo.

E nunca consegui gostar daquelas músicas sobre mulheres que são chifradas por maridos bêbados e putanheiros e ficam lá, muito adultas, muito cheias de amor, esperando o cara voltar para, entre uma surra e um choro, fazer um chá e passar uma pomadinha no pinto dele. E nunca entendi que a mulherada gostasse, que se sentisse compreendida. Deve ser o tal do progressismo: quem me compreende sabe que  não apanho de homem, nem sustento nenhum – bato e sou sustentada. Sou é muito conservadora.


22 Respostas to “Chiquismo”


  1. maio 3, 2007 às 7:38 pm

    Gostoso ler teu texto… Sem contar o fato de que, como também não manjo nada da chicolatria, acabei me sentindo, digamos, redimido.

  2. maio 4, 2007 às 6:06 pm

    Silvia:

    Você é jovem e não compreende a importância de Chico na cultura nacional. A música que você citou, “Meu pai era paulista, meu avô pernambucano…” é chata mesmo. Chico Buarque não é só musiquinhas para mulheres sentirem que são compreendidas. Há músicas políticas, como “Apesar de você” ou “Tanto Mar”, há até rock, numa mescla chamada “Baioque” fora as músicas compostas por “Julinho de Adelaide” como “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta.”

    Eu não escrevo sobre música clássica porque não conheço. E não gosto. Não faço um post disso. Há uma onda iconoclasta no Brasil contra Caetano, Gil, Chico. Vamos ao baile funk, então?

  3. maio 13, 2007 às 4:07 pm

    Acho o Chico um dos grandes compositores da MPB, mas gosto também de um monte de outros compositores. Só não sou erudito no assunto. E acho que nem precisa.

  4. maio 27, 2007 às 5:32 pm

    Pode ser, Tina Harris, que a minha juventude me cegue para as muitas qualidades do Chico Buarque e das máquinas Singer – minha mãe adora os dois. Paciência. O diabo é o contexto: cresci sem o DOPS debaixo da minha cama, interessada noutras coisas políticas, e, como já expliquei, pouco interessada nas peculiaridades sexuais e etílicas do macho brazuca clássico. Falo mais disso depois.

  5. 5 fe
    novembro 7, 2007 às 6:09 pm

    andam pedindo mesmo férias ao Chico Buarque, mas olha, uma música de mulher de malandro dele toca mesmo as mulheres. e nao é só dele, “doce vida” tem o mesmo princípio, “camisa amarela” tbm. acho que ele tem muitos pontos positivos que encantam no geral. ou tá dificil de aparecer um bom letrista a altura. concordo com o chiquismo dar uma irritada, mas tente tbm ouvir outras, tem varias boas. (só nao ouve do ultimo cd, meio fracas).

    depois dos panos quentes, queria deixar um elogio pro blog, bem legal.

  6. 6 zel
    abril 28, 2008 às 5:02 pm

    silvia, achei bem legal seu post. e gosto muito de chico buarque, mas (e apesar de ser mais velha que você) também não me identifico com a tal “representação da mulher” que dizem que ele faz.

    gosto de muitas letras mas gosto muito mais das melodias e harmonias. acho chico um excelente músico e cantor bem ruinzinho 😀

    seu post me fez lembrar o quanto me irrita a patrulha de quem é fã-de-carteirinha – por que afinal todo mundo precisa amar chico buarque?

    abraço.

  7. abril 29, 2008 às 4:10 am

    O CB é bom. Claro, o número dos q constróem pirâmides caiu vertiginosamente nos últimos milênios e o número dos q gostam de CB vai também diminuindo com o tempo. Mas ele é bom no q faz e merece ser lembrado. Em seus melhores momentos, ele tem absoluto domínio sobre sua arte, como Beethoven tinha neste aspecto: fazer rir ou chorar ou pensar está sob o controle de sua VONTADE; e isso é suficientemente raro pra ser valorizado por quem conhece o assunto, ainda mais numa língua moderadamente intratável como esta.

  8. 9 Dr. Requerido
    maio 2, 2008 às 3:56 am

    Aplausos à autora do blog.

    Outra coisa sacal (para ficar numa gíria da época) é a beatlemania, coincidentemente outra doença que afeta os detentores do Chiquismo. Mas hoje em dia há os que idolatram Renato Russo, sinal que a coisa só piora com o tempo.

  9. maio 3, 2008 às 3:40 am

    Das 2300 músicas do Chico tem umas 6 boas. Isto o faz um artita do nível do… Roberto Carlos!

  10. 11 RAC
    maio 3, 2008 às 8:19 pm

    Chico Buarque não lava as cuecas do Rei Roberto.

  11. 12 PH
    maio 4, 2008 às 11:49 pm

    O Chico é bom. E as músicas q ele fez sobre as “mulheres de malandro” ñ são uma defesa desse tipo de atitude nem uma generalização – ele ñ diz q todas as mulheres são desse jeito. São apenas músicas sobre um tipo de mulheres q existe, é fato. O chato é o seu endeusamento, como é chato o endeusamento de qualquer um. Ñ é um saco quem é ultra-mega-fã do Bob Dylan, ou mais raro, do Leonard Cohen?
    E no mais, ñ acho q o post esteja errado, é só um cutucão bem humorado nos fanzocas do Chico.

  12. maio 12, 2008 às 5:22 pm

    Um amigo me mostrou esse texto, dizendo: “leia, você vai ficar indignada”, mas isso não aconteceu.. só consegui rir. Eu acredito no livre arbítrio, é por isso que eu não digo nada pra quem realmente acha que Paulo Coelho é literatura. Por isso que relevo quando vejo pessoas indignadas, porque eu simplesmente não sei quem é o não sei o que “inho” que junto com outros 6 caras forma um super grupo de pagode.. fazem algo que muitos chamam de música.. e se encontram no top parade de rádios de todo país… então, é claro que não me indigna você não gostar de Chico… mas me surpreende a sua avaliação da obra do Chico pelas 3 músicas que você diz conhecer.. me surpreende você afirmar que é música de corno.. e de mulheres submissas..ah.. isso sim me surpreende.. de repente pensei estar lendo sobre qualquer dupla de neosertanejo… pessoas aí que gravaram um novo tipo de “dormi na praça”.. mas fazer o que.. eu também nunca entendi como alguém pode gostar de Calypso, então.. quem sou eu pra dizer que Chico é muito bom e você é doida por não gostar. Mas acho que é o contrário.. talvez você seja uma progressista.. talvez a conservadora seja eu… eu que não acompanhei a “evolução musical” desde o surgimento do Chico…culpa da minha criação com Beatles, Chico, Tom, Vinicius, Cartola. Acho que minha mãe acabou me transformando em uma criatura assim.. que não consegue compreender toda a musicalidade do Mc Créu e companhia.. alguém que realmente acha bom pra caralho o requinte harmônico e melódico das músicas do Chico e que acha aquilo sim um bom exemplo de letrista.. Ai, ai.. é isso.. não passo de uma nojentinha retrógrada, incapaz de perceber que bom mesmo é NXZERO

    • 14 ju andrade
      dezembro 21, 2010 às 5:43 pm

      Prá Má…
      Faço minhas as suas palavras.. sem tirar, nem por!rs
      Mas “endeusar” a tal saga de vampiros e lobisomens pode, né? E as bandas coloridas também? O filho do Fábio Junior? Não consigo ver, na nossa geração, alguém que eu consiga admirar! Salve algumas mulheres da nova mpb que vêm se destacando, como Roberta Sá, Mariana Aydar, Tiê, Ceumar, etc…
      As músicas do Chico não dizem só sobre as “mulheres de malandros”… aliás, essas são apenas uma pequena parte do seu repertório, que é imenso (e mesmo assim, grande parte dessas músicas foram feitas “de encomenda” para peças de teatro [como a Opera do Malandro] e teledramaturgia)! Mas é aceitável que pessoas da nossa idade não se deixem tocar por suas letras.. visto que nunca viveram aquela época, que ainda não passaram pelas vivências de que as mulheres retratadas por Chico passaram, e a maioria de nós são hoje mulheres independentes e muito bem resolvidas.. enfim… é difícil mesmo entender e gostar!
      Mas opinião cada um com a sua né.. e o que pode ser lixo prá mim, pode ser bom prá vc, ou vice versa!
      Que bom que somos todos diferentes!
      Evoé!

  13. maio 13, 2008 às 9:29 pm

    óbvio, porque quem não dá bola pra chico SÓ PODE SER fâ do MC alguma-coisa ou de NXZERO.

    faz total sentido.

  14. 16 sergio
    maio 14, 2008 às 6:02 pm

    vejam só. nos anos 60 o ‘engajado’ era falar mal de chico e amar vandré. nos anos 70, o ‘lero’ era amar chico e odiar odair josé. nos anos 80 e 90, bem, não existiu nada que valesse tanto a pena amar ou odiar assim. por isso, as blogueiras ‘descoladas’ dos anos 00 voltaram a falar mal de chico por iconoclastia tipo sub-paulofrancis pra lotar caixa de comentários. E não é que se consegue 15 comentários facinho, facinho?

  15. 17 Lucas
    maio 15, 2008 às 5:58 am

    Não sei se vim a tempo de ser lido, mas queria lhe dizer duas coisas: A primeira é que esse chiquismo, como você chama, realmente dá no saco, eta mania de gostar das coisas sem gostar de verdade, um saco!

    Porém, não sei se porque gosto de Dom Quixote, queria que ouvisse mais uma vez essa música a qual se referiu (Paratodos). Me senti ligeiramente incomodado já que gosto bastante dela, acho bonito um músico escrever uma composição em homenagem a toda música popular brasileira. Pode parecer chato aquele monte de nomes, mas acho muito bem construído o andamento da letra e, quando já estamos de saco cheio ele diz e “evoé jovens à vista”.
    É uma música que faz parte da história, quase toda a música popular até a época está lá (só a Elis que não sei…). O Chico é bem complexo, gosto de ouvir em momento reservado, prestando atenção.

    Você devia tentar, quem sabe não acaba virando chiquete também?

    Abraço

  16. maio 20, 2008 às 10:28 pm

    Vc é um idiota seu otário por que você fez esse site seu relento..

    VAI TOMAR NO CENTRO DO OLHO DO •

    SEU CARA DE CU..

    NÃO TEM MAIS O QUE FAZER NÃO DESGRAÇA!

    PORRAA!

  17. maio 20, 2008 às 10:31 pm

    OOO SUA DESGRAÇAAA!!!

    Q KARAIIIOO DE BUCETA RUIM É ESSE SITE…

    NUM TEM OQ FAZER NAUM É ,PRA FIKA FAZENDO ESSES SITE IDIOTA..

    EU QUERO MAIZ Q VC SE FODAAAAA

    Q VC MORRA..

    VAII TOMAR NO CENTRO DO MEIOO DO OLHINHO PRETO DO SEU CUU..

    SEU FIOO DA PULTAAA…

    BJO•

    PRECISAR DE UM COMENT SÓ CHAMAR..

    ASS:BUCETA CABELUDA PERVESEE

  18. maio 26, 2008 às 3:15 am

    Eu achava que comentários assim como os seus, Cara de Bucetona, terminavam sempre em “huahuahua”, ou “kkkkkkk”. Me enganei. Mais fácil (e lógico) eu virar chiclete, Lucas. E nos 00 o estilo, Sérgio, é prescindir das maiúsculas. Você disse melhor do que eu, Mateus, o que eu diria à . Mas eu sou ultra-mega-fã do Leonard Cohen, PH, especialmente quando ele me manda dance him through the panic ‘til he’s gathered safely in. Não lava não, RAC, e nem as dele, acho. Mas o Rei tem umas 7, Leonardo. Na mosca, Dr. Requerido. Essa vontade aí, Mevisto, não sopra aqui, sei lá eu por quê. Muito curiosa, aliás, a sua comparação. Indeed, Kid. Pois sim, Zel: por quê, por quê?

  19. 21 Fernando
    outubro 26, 2008 às 2:10 am

    Eu, que conheço TODA a obra do Chico, posso dizer o seguinte: é irrelevante. Não chega aos pés de Ismael Silva. Geraldo Pereira coloca o dito no chinelo. Não fosse a ditatura e ele teria sido relegado ao mais profundo esquecimento. Agradeça aos generais, Chico.


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